A Cruz Vermelha de Cabo Verde decidiu suspender por tempo indeterminado os jogos do Totoloto Nacional a partir deste domingo, 29, dia da sua última extração, por causa do cancelamento dos voos domésticos imposto pela pandemia do Covid-19. A informatização dos Jogos é a aposta seguinte.

Arlindo Carvalho, presidente da Cruz Vermelha de Cabo Verde, disse ao Santiago Magazine que esta decisão “apesar de dura, era necessária”, na medida em que com a suspensão das ligações aéreas entre as ilhas ficaria impossível manter o Totoloto com cobertura nacional. Para esta semana, a CVCV conseguiu trazer os boletins da maioria das ilhas, ficando de fora apenas Boa Vista, que já estava com as ligações aéreas cortadas, e Santo Antão.

Outro factor determinante para parar o Tototloto é o facto de, por causa do Coronavírus e da sua forma de transmissão utilizando o aglomerado de pessoas, “as agências agruparem apostadores em pequenos espaços, o que não é recomendável nestes tempos, razão pela qual optámos por mandar suspender os jogos para também aderirmos a esta luta contra o Covid-19”.

“Esta suspensão das actividades do Totoloto Nacional vai, sem dúvida, afectar e muito os cofres da Cruz Vermelha. Estamos a falar da principal fonte de receita da CVCV. E só para se ter uma ideia, só esta semana (extracção este domingo à noite) tivemos uma quebra de mais 40 por cento do volume das apostas no Loto e cerca de 45 por cento no Joker”, lamenta Arlindo Carvalho, realçando o facto de cerca de 86 por cento da sustentabilidade dos projectos da Cruz Vermelha derivar desses Jogos.

O concurso nº 13 de 29 de Março (hoje) registou 3.017.700$00 em apostas no Loto (1.100.000$00 de prémio), quando há uma semana os cabo-verdianos jogaram 5.122.520$00, menos 41,09%. No Joker, a redução foi ainda maior, ou seja, de 3.429.250$00 apostados na edição de 22 de Março baixou este domingo para 1.895.400$00 o total das apostas, 44,73% inferior.

O responsável da Cruz Vermelha não esconde, por isso, a sua preocupação quanto ao que futuro reserva a esta organização não governamental. “Repara, vamos perder muito dinheiro e, paradoxalmente, vamos continuar com os encargos de sempre. Temos nove centros e lares de terceira idade, com centenas de idosos que damos cobertura, temos centros para diabéticos, carenciados que estão a aumentar a cada dia, mais os 19 conselhos locais que funcional junto das Câmaras municipais e delegacias de Saúde, enfim, tudo isso temos que ter a funcionar e servir de rectaguarda ao serviço nacional de saúde”, elucida Carvalho.

O presidente da CVCV faz questão de notar também que 13 por cento das receitas dos Jogos vão para os Cofres do Estado, além de 20 por cento de impostos. Diante deste cenário, sem Jogos e com encargos fixos para com velhos, doentes e carenciados, Carvalho admite recorrer ao Governo no sentido de o Tesouro abdicar dos 13 por cento que serão cobrados assim que retomarem os jogos. “Penso inclusive enviar uma carta-proposta amanhã, segunda-feira, ao Governo a sugerir isso, ou seja, que o Estado deixe de cobrar esses 13 por cento por um determinado período, a fim de nos desafogar um pouco”, diz.

A hora dos jogos sociais inline

Esta situação poderá, entretanto, apressar o processo de digitalização dos Jogos, ou seja, transformar o Totoloto e restantes jogos em formato electrónico online, como sucede na Europa ou EUA.

Uma empresa norte-americana ganhou o concurso para a instalação desse tipo de jogos online em Cabo Verde, no valor de 300 mil contos. Mas a Cruz Vermelha aguarda desde então a assinatura do contrato de concessão por parte do governo. “Essa suspensão dos Totoloto vem evidenciar que nunca é demais acelerar esse processo de mudança para apostas online, o que permitiria as pessoas mesmo estando em quase a cumprir isolamento social a possibilidade de continuar a jogar. Veja, o regime jurídico já está aprovado, as bases gerais para a concessão também, portanto, é só o Governo chamar a Cruz Vermelha, que já está há mais de 20 anos no mercado a explorar esses jogos, e assinar o contrato. São 300 mil contos que a CVCV vai ter empregar nesse projecto, que leva dez meses para estar concluído, por se tratar de um software que exige muita tecnicidade”, refere Carvalho.

O PCA da Cruz Vermelha revela que a empresa que virá instalar a versão online do totoloto é a mesma que desenvolveu e suporta o Euromilhões e demais jogos da Santa Casa de Misericórdia, em Portugal, e afins pela Europa e Estados Unidos. “Havendo a possibilidade de jogos online a introdução de novos jogos aumentaríamos o potencial de jogos sociais em Cabo Verde, porquanto tanto os residentes como os cabo-verdianos na diáspora poderão apostar”, pontua Arlindo Carvalho, acrescentando que o futuro Totoloto, em versão informatizado, será nos mesmos moldes do Euromilhões.

“Eu negociei com essa empresa chave na mão, isto significa que podemos no futuro vender este produto a outros países. E já temos interessados, inclusive, porque é um sistema muito moderno e muito eficaz. Aliás, o regulamento internacional de Jogos já não permite o tipo de jogo que temos em Cabo Verde, que é de apostas simples, temos que ter apostas múltiplas. Há uma injustiça social no nosso modelo, porque uma pessoa joga 20 escudos e outra aposta 200 escudos e ambas têm a mesma chance de ganhar o mesmo valor. Com as múltiplas deixará de ser assim, será como no Euromilhões”, garante Arlindo Carvalho.

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